domingo, 8 de fevereiro de 2009

As 50 Primeiras Páginas Do Livro

A INVASÃO DOS EXTRATERRESTRES EM CLEVELÂNDIA

INTRODUÇÃO

O ano é o de 1998. Perigosos ET’s desafiam a segurança terrestre e invadem uma pequena e pacata cidade do interior do Brasil, Clevelândia.

O intuito dessa perigosa raça alienígena era dominar primeiro os habitantes daquela cidade, descobrindo suas fraquezas e seus medos, para então, a partir dali, conquistar o planeta inteiro. A missão foi um fracasso. Embora tivessem êxito, no início, contra as autoridades perplexas daquele município, foram derrotados por um pequeno agricultor do interior, o qual resolveu plantar porongo, planta nativa da cidade, porém pouco apreciada pelos seus moradores. Os ET’s, alérgicos ao porongo, foram morrendo em todos os cantos da cidade.

A população, sem saber exatamente o que estava acontecendo, viu a cidade se tornar um imenso porongal e destacar-se como a maior e melhor fabricante de cuias de chimarrão da América Latina.

Os principais líderes desta invasão, no entanto, conseguiram fugir em suas naves espaciais. Mais tarde, em seu planeta de origem, descobriram a causa das mortes e estudaram uma maneira de desenvolver algo que neutralizasse o efeito do porongo, pois não haveriam de desistir tão facilmente.

CLEVELÂNDIA, 18 ANOS DEPOIS

Estamos no ano de 2016. O tempo passou rápido. 18 anos depois da invasão dos alienígenas, pouca gente se lembra do episódio.

Na praça, imensas estátuas imortalizam os clevelandenses que participaram da luta contra os ET’s. Quase ninguém, contudo, sabe o real motivo de elas estarem lá e o que significam.

Clevelândia não ia bem. A fábrica de cuias de chimarrão estava passando por uma grande crise e, naquela primeira semana de abril, mandou mais de mil funcionários para casa, em férias provisórias, para contenção de gastos. Um dos motivos era que o hábito de tomar chimarrão estava se tornando cada vez mais raro entre as pessoas, poucos novos adeptos, e isso já começava a preocupar as autoridades clevelandenses, que tentavam encontrar uma solução urgente para a crise.

Algo ainda pior estava para acontecer na economia clevelandense. Naquela mesma semana, alguns agrônomos perceberam que mais de quarenta hectares de porongo secaram da noite para o dia, sem nenhuma explicação aparentemente lógica para o fato: nenhuma praga, veneno ou condição climática que determinasse tamanha catástrofe. Era preciso uma reunião urgente com as autoridades, as quais tomaram conhecimento do fato mas não apresentaram nenhuma solução imediata, algo que pudesse resolver o problema. Ficou determinado apenas que novos estudos fossem feitos, com a finalidade de descobrir a causa.

Clevelândia, no ano de 2016, teve um grande desenvolvimento, graças ao porongal, e tornou-se a quarta economia do Paraná. Respirava ares de capital, mas com aquele jeito do interior, isso porque todos se conheciam. O povo era muito unido, trabalhava sempre com muito empenho e muita garra pelo desenvolvimento da cidade. Haviam também as pequenas empresas, que para lá vieram baseadas na economia do porongo.

Todos estavam preocupados. Isso tomava conta da população clevelandense, ainda mais agora, depois de transformar o município vizinho de Palmas em área ambiental - haviam boatos de estender essa faixa até as terras de Clevelândia.

Tais momentos difíceis faziam com que o atual líder clevelandense perdesse muitas noites de sono, na tentativa de encontrar uma solução, entre um cochilo e outro. No entanto, nada surgia. “Justo agora, que estávamos desenvolvendo uma campanha publicitária, incentivando as pessoas a retomarem o hábito de tomar chimarrão, o porongo começa a secar” - pensava ele.

A população tentava levar a vida rotineiramente, porém mal imaginavam os clevelandenses que uma nova luta estava por vir.

FATOS ESTRANHOS

- Por que eles não nos contatam? - perguntam os céticos. Contudo, seria bem melhor que perguntássemos: - Por que eles não nos deixam em paz?” (John A. Keel)

Era uma segunda-feira do terceiro dia de abril, pouco mais de duas horas da tarde. Já havia amanhecido com um clima estranho, o ar carregado de mistério…

De repente, o céu de Clevelândia escureceu completamente, o sol sumiu e a população entrou em pânico. Era assustador, ninguém conseguia entender o que estava acontecendo, a histeria tomou conta das pessoas e, para aumentar o espanto do clevelandense, minutos depois o sol apareceu novamente e tudo voltou ao normal. O mais inusitado nesse fenômeno é que ele não foi registrado em nenhum outro lugar do país, nenhuma notícia nos jornais ou na televisão. Nas cidades vizinhas, segundo informações, nesse horário o sol brilhava normalmente, o que fez o povo clevelandense ficar achando que tudo não passara de uma alucinação coletiva…

Uma semana depois, outro fato misterioso. Nasceu, nas terras de um fazendeiro, um ser dotado de características muito peculiares: um gado da raça charolesa, com duas cabeças e oito pernas, totalmente coberto de pêlos avermelhados. Na cabeça, seis chifres não paravam de crescer. Totalmente selvagem, dotado de extrema violência, tirou a vida de um peão já no momento do parto. O animal, contudo, não resistiu muito tempo e morreu algumas horas mais tarde. As mortes do peão e do animal foram encobertas pelos donos da fazenda. A do peão, registrada como causa natural. Nunca, no entanto, alguém teve acesso ao corpo do mesmo, nem a família nem os amigos. Conta-se que ficou irreconhecível, totalmente dilacerado, que os pedaços do mesmo, juntamente com a estranha criatura, foram enterrados em um local acima de qualquer suspeita.

Mais uma vez, o caso não foi registrado pela imprensa nacional, sendo abafado por autoridades médicas e políticas da cidade. O fato foi dado como boato, apenas histórias inventadas por desocupados nas rodinhas e nos bares da cidade.

Mas coisas estranhas não paravam de acontecer. Exatamente três semanas depois ouviu-se o barulho de uma enorme explosão. Em seguida, mais uma e mais outra. O horário: uma e meia da manhã. O barulho colocou a população de pé e a cidade foi acometida por um blecaute. Sem energia, com lanternas e faróis, o clevelandense procurava vestígios das explosões. Buscas incessantes foram feitas, na cidade e suas rendondezas, mas nada foi encontrado. Duas horas depois a luz voltou e as buscas foram interrompidas, para dar continuidade horas mais tarde, quando o sol nascesse. Durante dias procuraram evidências da explosão e nada foi encontrado; sendo assim, o caso foi encerrado e o fato, não tendo uma explicação lógica, foi tido como um fenômeno da natureza.

O clima na cidade, porém, começava a ficar tenso. As pessoas murmuravam pelos cantos, o medo e o pavor eram uma constante. Os dias se seguiam carregados, atos de vandalismo eram freqüentes, protestos e manifestos eram feitos todos os dias, o estresse tomou conta de todos. Os doutores e as autoridades procuravam encontrar uma solução, já que as pessoas não paravam de entrar em depressão e, se assim continuasse, previam, a cidade poderia se exterminar.

Passaram-se mais três semanas sem que os estranhos fenômenos voltassem a acontecer. A população estava mais tranqüila, os velhinhos voltaram a jogar xadrez na praça, as crianças brincavam no parque, os casais namoravam e a vida parecia tomar seu rumo normal. Na rádio, nova campanha para as pessoas do país voltarem a tomar chimarrão dava mais esperanças ao povo. Nos canais de TV, era comum assistir palestras sobre a importância do chimarrão para a saúde, inclusive para se aumentar o círculo de amigos. Também divulgava-se que o mesmo era bom e combatia o estresse e a depressão, com o slogan ” com chimarrão, prosa e risada, não tem peão com depressão”.

As vendas da erva começaram a aumentar e a procura pelas famosas cuias de Clevelândia voltaram a ter lugar de destaque na economia do clevelandense.

Um fato, porém, preocupava o clevelandense: o porongo que secava misteriosamente. O mistério ainda não tinha sido decifrado, e quando terminassem os estoques, a situação iria complicar. Um clima de tensão começou a tomar conta das pessoas, que davam os mais diversos palpites. Alguns diziam que a profecia estava errada, Clevelândia não iria acabar em porongal, mas iria acabar o porongal em Clevelândia, e novamente o profeta surgiu como o provável vilão pela catástrofe e infelicidade do clevelandense.

A HISTÓRIA DE VALÉRIA

Valéria acordou mais cedo naquele dia. Não queria se atrasar para a escola, já que era período de provas e quem chegasse atrasado perderia pontos nas matérias. Enquanto tomava café, passava rapidamente os olhos no jornal para saber das últimas novidades da cidade: Mônica, uma patricinha, iria casar-se sábado na Igreja Matriz e a lista de convidados já passava de mil e duzentas pessoas. Pensou: “Quanto dinheiro desperdiçado com vaidades, quanta gente para sustentar nesse dia, quanto luxo desnecessário! O que esses ricos têm na cabeça?”

Terminou de tomar o café, escovou os dentes, pegou o material e deu um beijo em sua mãe.

-Tchau, mãe!

-Vai com Deus, minha filha.

Valéria tomou o caminho da escola, passou pelo atalho, o carreiro do moinho, que ligava à rua seguinte, no bairro Bela Vista. Enquanto andava, lembrou novamente do casamento de Mônica e das proezas que os pais ricos faziam para satisfazerem as baldas de suas “inocentes filhinhas” e, para piorar, o noivo da moça era mais rico ainda do que a noiva. Gente assim só casa com quem tem dinheiro, não conhecem o amor, apenas a ambição, por isso são tão vazios.

Valéria era uma morena muito bonita.Um metro e setenta de altura, seios firmes, corpo escultural, cabelos negros e lisos, de olhar profundo e sorriso inocente. Chamava a atenção onde quer que passasse. Simpática e meiga, era querida por todos, mas invejada por todas. No colégio, a maioria das meninas não gostavam dela. Embora tentasse uma aproximação, era geralmente cortada dos círculos. Sua beleza incomodava as pessoas, que vinha, ainda, acrescida de luz, e luz nunca faltou em Valéria.

Tentava encarar a vida com muita fé e otimismo. Para ela, as pessoas a evitavam porque era de família humilde, mas nem por isso cultivava o ódio em seu coração. Esperava encontrar um grande amor para viver, alguém que fosse especial e que a amasse de verdade e não somente a desejasse. Muitos eram os pretendentes, mas nenhum sincero em suas pretensões, tanto que Valéria decidiu dedicar-se mais aos estudos, para depois pensar sobre isso.

Ela tinha o sonho de viajar pelo mundo, conhecer outros povos, outras nações, seus costumes e tradições. As diversas histórias da raça humana a deixavam fascinada e, como de louco todo mundo tem um pouco, ela acreditava que Deus, o grande criador do Universo, por ser tão ilimitado, não tinha limitado a vida somente ao planeta Terra, mas que ao redor das galáxias e dos sistemas solares certamente existiriam outros seres mais e menos evoluídos que nós, com suas próprias histórias construindo a história do universo.

Passava horas na Internet em busca de vida em outros planetas. Nunca duvidou, também, que existissem seres extraterrestres do mal, prontos à invadir, a qualquer momento, o planeta, em busca de recursos que destruíram em seus planetas, dispostos até a exterminar a raça humana. Raramente falava com seus colegas sobre esses assuntos, pois sabia que seria motivo de chacotas e risadas.

Tinha o hábito de olhar para o céu, em busca de respostas para seus questionamentos. Nunca observou nada de diferente, a não ser estrelas, lua e estrelas cadentes. Os últimos fenômenos que afetaram Clevelândia a intrigavam, tanto que passou vários e-mails para amigos ufólogos e estudiosos de mistérios. Talvez eles tivessem alguma explicação, ou talvez algo parecido já tivesse acontecido em outros lugares. Não tinha, ainda, obtido resposta em sua caixa postal.

Outro fato que a intrigava era a mal contada história sobre uma suposta invasão de extraterrestres em Clevelândia. Quando questionava esse fato em casa, sua mãe rapidamente mudava de assunto.

-Filha, você tem uma imaginação muito fértil. Lembra muito seu pai, que passou a vida estudando essas coisas estranhas, era motivo de piada para seus amigos, e tido como um louco em Clevelândia.

-Mas o que aconteceu com o pai, como explicar seu desaparecimento, mãe?

-Seu pai sumiu da noite para o dia, filha, eu já lhe falei isso milhares de vezes. Fugiu com outra mulher e nos abandonou à própria sorte, deve estar em alguma cidade vivendo com ela e pronto, essa é a história da vida real, sem fantasias, mas a realidade, a única, a verdadeira e explicável.

-Mãe, mas foi ele, segundo dizem as pessoas mais velhas, que descobriu no porongo as substâncias tóxicas que exterminaram os ET`s que invadiram a cidade, com isso você tem que concordar…

-Filha, você acredita nessas histórias? Isso tudo não passa de crendice popular. Clevelândia estava atravessando um momento difícil, alguém teve a idéia de plantar porongo para vender para fabricantes de cuia. Esse ser genial foi seu pai. Como a planta se desenvolveu muito rápido e o clima era favorável, o prefeito da época aproveitou, desenvolveu um projeto e criou uma história sobre os ET`s. A idéia deu certo, a cidade cresceu, ele fugiu e ponto final. Não se fala mais nisso!!!

-Tudo bem, mãe.

Valéria não desistiu, tudo era muito obscuro. Se o seu pai estivesse no planeta Terra já o teriam encontrado, pois colocara sua foto na Internet fazia um ano e ninguém o localizara. Em caso de morte, também já o teriam encontrado em algum necrotério ou hospital. Tudo isso tornava o fato mais misterioso. O que realmente acontecera?

Enquanto Valéria tentava decifrar os mistérios de seu mundo, o mundo normal passava diante de seus grandes olhos negros, sem nada de especial e, principalmente, algo que transformasse os paradigmas da sociedade.

No entanto, a mãe de Valéria começava a se preocupar com a filha e pensava: “Bom seria se ela arrumasse logo um namorado, casasse e fosse viver a vida dela. Com essas loucuras na cabeça, certamente a vida dela se estragará”.

*****

O PRIMEIRO CONTATO

Às vezes, o inusitado salta aos nossos olhos, mas nem sempre acreditamos. Surpreendentes fatos vêm de encontro às nossas crenças e preferimos ficar com elas, simplesmente porque é mais cômodo e, além do mais, certas realidades podem nos forçar a nos movimentarmos e, a certa altura de nossa vida, a estática é bem mais fácil, o melhor mesmo é deixar essas coisas para lá, afinal, só se vive uma vez.

Naquela noite chovia forte, raios e trovoadas preenchiam todos os cantos da cidade. Nunca tinha se visto tamanha tempestade e com ventos tão fortes. Quem arriscava se aventurar, naquela noite, tinha que ter muita coragem, porque era risco de morte, com certeza.

Bem acima da tempestade, uma nave de proporções gigantescas permanecia imóvel, como se estivesse esperando o momento crucial para uma aterrisagem… Se alguém, durante a tempestade, olhasse entre as negras nuvens, raios e trovões, perceberia que nem isso ocultava o brilho daquela nave. Porém, ninguém se atreveu a olhar para o céu e, depois das dez horas da noite, os clevelandenses encontravam-se em casa, em suas camas, dormindo, ou tentando dormir.

Então, a nave se deslocou até a torre da Igreja Matriz, ali permanecendo por alguns segundos. Logo depois, foi de uma extremidade a outra da cidade, como se estivesse procurando o melhor local para um pouso, sem ser percebida. Encontrou no Parque de Exposições as condições necessárias, em uma antiga camuflagem, onde um dia estivera, com o intuito de estudar o comportamento dos clevelandenses e, com base nesses conhecimentos, conquistar a cidade para si e sua raça e depois, o planeta Terra inteiro. Começou a pousar. Era impressionante a tecnologia que a fazia ficar como se estivesse imóvel no ar e descer como se fosse uma pluma, sem emitir barulho algum. Foi tomando forma no seu esconderijo camuflado. Se os animais falassem, certamente, alguns poucos, de natureza canina, que se abrigavam da chuva, escondidos em algum escombro nas rendondezas, contariam em detalhes o que seus olhos presenciavam, enquanto os clevelandenses dormiam tranqüilamente no aconchego de suas casas, sem suspeitar do que viria pela frente.

Em meio à forte tempestade, um bebâdo, segurando uma garrafa, olhava fixamente de dentro de um abrigo improvisado, juntamente com os cães, aquela luz forte.

-Meu Deus, beber não está mais me fazendo bem! O que será isso?

Por um momento,a lucidez veio à tona, assim como o medo, e mesmo ébrio teve plena certeza de que algo estava errado em Clevelândia. Em seguida, correu em disparada rumo à saída do parque, tropeçou e caiu, ficando inconsciente. No dia seguinte:

-Acorda, amigo, o que aconteceu, o Sr. está bem?

-Eles estão entre nós, eles vieram para acabar conosco - disse o bêbado, balbuciando.

Então o estranho viu a garrafa vazia e pensou: “Ele está delirando, pois bebeu tudo, a garrafa está vazia”.

-Amigo, está tudo bem, levante-se. Onde você mora? Eu o levo para casa.

-Eles vão nos matar, a todos nós…

-Sim, eles vão, mas diga-me onde o senhor mora, quero levá-lo para casa.

O bêbado, como se estivesse em transe, nada respondia. Talvez tivesse sido abduzido, quem sabe, mas o estranho que o estava ajudando de nada suspeitou, colocou-o no carro e o levou até o Posto de Saúde. Chegando lá, contou a história e os atendentes explicaram:

-É sempre assim, esse já é nosso freguês antigo aqui no posto, de vez em quando alguém o traz aqui em condições miseráveis. A que ponto pode chegar um ser humano, abandonar tudo e viver somente para se embriagar, como se estivesse renegando a vida!

-É, isso que ele vive não é vida, é uma condição miserável - disse o estranho.

-É, mas não podemos mudar o mundo com os recursos que possuímos. O que podemos fazer é prestar ajuda dentro do que nos é permitido.

-Ele vai ficar bom?

-Com certeza, ele sempre fica bom e volta a beber.

-Obrigado - disse o estranho - e partia para os seus afazeres diários, mas não teve tempo. Ao virar as costas, foi atingido pelo forte impacto de uma cadeira, vinda do bêbado, o que ocasionou sua queda , desmaiado. O bêbado agora estava furioso e incontrolável, destruindo tudo o que via a sua frente. Seu corpo começou a tomar formas cada vez maiores e, à medida em que ficava maior, mais forte se tornava. As pessoas gritavam e saíam correndo do posto, até que, de repente, com fortes convulsões e a face com uma horrenda expressão de maníaco, uma estranha espuma saía de sua boca, os dentes mordendo os lábios e os olhos brancos, sem vida, deu um uivo horrendo e disse suas últimas palavras: “ELES VÃO TOMAR VOCÊS”. Minutos depois, estava morto.

O acontecido foi anotado nos arquivos do Posto, em seguida salvo e guardado no computador. Os funcionários jamais voltaram a tocar naquele assunto, pois quem estava lá sentiu um pavor jamais experimentado, ao ouvir as palavras daquele ser totalmente descontrolado.

A HISTÓRIA DOS ALIENS INVASORES

“- Diabos… Diabos… Que diabo é isso?” ” - Controle da missão chamando Apolo 11, câmbio, câmbio. O que está acontecendo aí?” “Enormes.. Oh meu Deus… São enormes… Vocês não acreditariam. Aviso que há outras espaçonaves por aqui… Estão espalhadas na outra borda da cratera… Estão aqui na Lua, observando a gente!”

(20 DE JULHO DE 1969, DIÁLOGO DO CORONEL ELDWIN ALDRIN COM A NASA, ANTES DO PRIMEIRO POUSO NA LUA)

Eles eram horrorosos, cabeça oval, grandes olhos e uma boca pequenina. Os humanóides, de aspecto e cor da noite, estavam no seu esconderijo, observando tudo o que acontecia em Clevelândia e guardando nos arquivos da central de bordo. Nada escapava a sua vigilância, desde uma pelada entre os moleques do bairro, até as reuniões mais importantes das autoridades do município.

Destruidores de mundos, pertenciam à antiga galáxia de Astrus. Astrus era o seu sol e tinha o mesmo tamanho do nosso. Dos sete planetas que giravam ao seu redor, cinco já haviam sofrido a invasão dessa raça de humanóides, foram completamente destruídos e estavam sem a mínima condição de oferecer habitat a alguém. Os cinco abrigaram vidas inteligentes e bondosas. Não que fossem uma raça superior, mas há muito tempo dominavam a mente e tudo era controlado através dela. A harmonia reinava e era normal reunirem-se para troca de conhecimentos e informações.

O sexto planeta jamais se reuniu com esses cinco. Os habitantes de Nelfos, os nelfolianos, como são conhecidos, eram dotados de energias bem diferentes. Acreditavam que poderiam dominar o universo através da tirania; sentimentos mais nobres, como o amor, a amizade e o companheirismo não existiam entre eles. Eram movidos por uma estranha vontade de destruição, de domínio negativo. Nas primeiras tentativas de guerra contra seus planetas vizinhos sofreram muitas derrotas, mas na arte da guerra, batalhas perdidas acontecem, e como esses habitantes respiravam guerra desde o seu nascimento, sempre voltavam ao ataque depois de cada derrota. Nunca desistiam, e o mais surpreendente, cada vez mais fortes e poderosos. Ao contrário dos outros planetas, Nelfos acreditava no poder da tecnologia para escravizar as pessoas. Assim, foram ficando mais fortes que os planetas vizinhos, até que começaram a vencer e dizimar planetas inteiros que, em vão, lutavam contra suas armas de destruição em massa.

Após destruir o último planeta, dos cinco habitados, os nelfolianos tornaram-se os únicos habitantes do Sistema Astrus mas não tinham, ainda, tecnologia suficiente para viajar até outras galáxias e dominá-las. Até que isso viesse a acontecer, muito tempo deveria se passar.

Havia, ainda, o sétimo planeta. Esse, por ficar muito próximo do Sol, não tinha trevas. Era dia eternamente, e essa luz não fazia bem para os nelfolianos, uma vez que eram o último do sistema solar e seu sol brilhava apenas duas horas por ano.

Invadir o primeiro planeta do sistema solar estava fora de cogitação para os nelfolianos, afinal, nunca detectaram sinais de vida e acreditavam que a vida não havia se desenvolvido devido à proximidade com o sol. Sem planetas para destruir, matar, saquear e escravizar, os nelfolianos foram perdendo sua identidade, até que o inevitável aconteceu e começaram uma guerra entre si mesmos, sem precedentes na história do universo.

Embora o planeta Nelfos fosse habitado por uma raça guerreira e destruidora, oferecia tudo o que era necessário para a vida, com abundância de rios e florestas, o ar era puro e o mar também existia por lá e, por incrível que pareça, a única coisa que essa raça preservava, rigorosamente, era o seu meio ambiente. Sabiam que sua sobrevivência dependia desse controle e desse cuidado.

Ao iniciar essa guerra o meio ambiente foi mortalmente atingido e, em questão de pouco tempo, as condições de vida no planeta tornaram-se insuportáveis. Foi nessa época que resolveram dar uma trégua, mas tarde demais. A água havia acabado e os rios, envenenados com a famosa energia nuclear. As florestas, destruídas pelas forças das bombas. Era o fim do mundo dos nelfolianos.

Como resultado, tiveram que se unir para evitar o fim de sua raça. No subsolo do planeta, encontraram algumas condições para sobrevivência. Passaram a trabalhar em pesquisas e se desenvolveram ainda mais no pontecial tecnológico. Em pouco tempo, o subsolo nelfoliano se tornaria superdesenvolvido, mas por viverem no subsolo, não se sabe o por quê, tornaram-se estéreis e, a partir de uma determinada época, nem os do sexo masculino e nem os do sexo feminino conseguiam procriar.

Nessa mesma época, a tecnologia atingia o ápice das viagens entre as galáxias Nelfos começava a traçar seus planos de conquista de outros planetas, fora do seu sistema solar. As viagens entre as galáxias foram descobertas por eles através do famoso mapa do universo, que há tempos tentavam decifrar. Agora, decifrado, descobriram que o universo, além de túneis que levam de uma para outra dimensão,somente são visíveis quando se atinge uma determinada velocidade. E mais, de tempos em tempos o mesmo universo sofria um desdobramento. Nesse desdobramento, abria-se um portal que dava em um universo paralelo, ou seja, o terceiro céu, como o chamavam. O terceiro céu seria assim interpretado : primeiro céu, aquele que vemos da superfície; segundo céu, aquele visto fora da superfície, isto é, lá em cima; e o terceiro céu, para alguns terrestres, morada de Deus, lugar nunca visto ou imaginado. Os nelfolianos também acreditavam nessa história, inclusive que lá habitavam os criadores do universo.

Porém, jamais um nelfoliano conseguiu voltar do terceiro céu para contar o que foi visto. De tempos em tempos, novos “recrutas” eram mandados para este céu, em missões suicidas. O mais difícil era a perda do contato com as naves, ficando a transmissão interrompida no momento da passagem. Enquanto tentavam descobrir uma forma de passar para lá e voltar, tinham uma nova preocupação - a esterilização de sua raça. Não podendo gerar, o fim era inevitável.

Depois de muitos estudos, descobriram na terra esperanças para novamente se tornarem procriadores. Pesquisas mostravam que, durante uma viagem de rotina à superfície terrestre, o acasalamento entre machos e fêmeas geraram bebês nelfolianos, que viriam a morrer mais tarde, no subsolo do planeta. Passaram a crer que a ausência de um habitat saudável na superfície era a causa do problema e necessitavam, urgente, tomar o planeta Terra para a continuação de sua raça.

Houve uma tentativa, fracassada, de invasão, quando foram infectados pela planta terrestre chamada porongo. Agora, descoberta a causa do efeito do porongo na raça, desenvolveram uma vacina que os tornava imunes por, pelo menos, 48 horas. Descobriram ainda uma praga indetectável e que exterminava o porongo, muito rapidamente. Tinham a preocupação de que outras plantas terrestres apresentassem o mesmo problema que o porongo; precisavam estar preparados para isso, agora que estavam de volta à terra, com a missão de iniciar sua conquista.

Clevelândia apresentava todas as informações necessárias para seu aprendizado, nessa nova batalha pela sobrevivência da raça. Uma das características clevelandenses era a sua posição no mapa terrestre. Os clevelandenses nem imaginavam, mas essa posição, sua altura na localização, punha sobre a cidade um dos melhores e mais respiráveis ares do mundo. Outra grande característica eram os seus campos: a cidade era plana, sem montanhas, sem buracos e isso facilitava, e muito, o pouso e a projeção de suas naves espaciais. Mais, a tecnologia nelfoliana detectou no subsolo de Clevelândia imensos lençóis de água doce, essencial para sua sobrevivência, água essa imensamente pura, de uma pureza nunca antes provada. Tinha, no seu composto, propriedades curativas essenciais não só para os humanos, mas para sua raça também. Com essa água, poderiam desenvolver melhor seu alimento, o sorvete, sendo este o único indicado, devido ao fato de seus sistemas digestivos serem muito delicados. A causa desse fator foi a radiação nuclear e o confinamento no subsolo do planeta, também responsável pela esterilização da raça.

As estratégias de guerra no planeta Terra eram novas. Ao contrário das outras, que visavam a destruição em massa e a conquista de bens materiais como ouro, prata e poder para se desenvolverem ainda mais no campo das conquistas tecnológicas, aqui seria diferente. Teriam que guerrear com os terrestres com o máximo cuidado para não ferir a natureza e o meio ambiente, este fundamental para a sobrevivência de sua raça, a caminho da extinção. Precisavam ser rápidos ou os próprios terrestres a destruiriam, pois já se encontrava em profundo desleixo.

Matar os humanos não pesava a consciência dos nelfolianos, afinal eles, os humanos, não valorizavam o meio em que viviam. Seus planos de civilização eram fracassados, nunca foram unidos. Nem agora, que o planeta começava a tomar o mesmo rumo que o dos nelfolianos, a passos largos para o fim, essa raça, além de fraca e ignorante (estavam anos-luz atrasados em comparação com os aliens), não sabiam nem se eram bons ou maus, não se definiam. A covardia do terrestre dava nojo nos nelfolianos.

O centro das conquistas era o planeta Terra. Esse seria o planeta de maior poder do universo, em suas mãos. Dali, poderiam dirigir seus planos de tirania e escravidão e comandar outros planetas, espalhados pelo universo, com perfeição e malícia.

A estratégia estava montada e milhões de nelfolianos se prepararam para esse dia. Neste momento, estavam somente aguardando as últimas pesquisas para, com suas naves, irem rumo ao planeta Terra, mais precisamente, Clevelândia.

A VISÃO

“Não existe o acaso. Todas as coincidências são altamente significativas” (JEAN-LOUIS JACQUES)

Ela corria desesperadamente, em direção do nada. As nuvens rápidas, as vozes em sua mente. Entre uma quadra e outra, olhava para trás, mas nada via. Apenas na sua mente, as vozes tomavam formas vagas. Parou um pouco para tomar fôlego, estava no centro de Clevelândia. Teve sede, entrou no primeiro bar que viu, a sede era imensa. Ao entrar, percebeu que estava nua. A reação de quem estava no bar foi de total indiferença. Alguém lhe ofereceu um cigarro, ela aceitou, porém, como podia? Nunca tinha fumado, em toda a sua vida! “Meu Deus, estou nua e ninguém parece se importar” - pensou. Em seguida, pediu um copo de água. Saciou a sede, alguém a convidou para sentar-se à mesa, o bar rodava, tudo acontecia em câmera lenta. Ela sentou, as vozes em sua mente haviam sumido. Tudo foi se dissolvendo, a cidade, o bar, as pessoas, mas aquela figura que a convidara para sentar transportou-a para outro lugar. Agora, estavam num deserto, frente a frente. De súbito, ela olhou para o céu e percebeu as três luas que brilhavam imensamente, muito próximas. Clareavam o imenso deserto, tomado de rochas petrificadas, casas destruídas, pessoas em formas de estátuas - foram surpreendidas por algo que não conseguia entender.

O ar cheirava a destruição, novamente em sua mente as vozes, de uma imensa multidão, gritando, apavorada, correndo. Atrás, sons terríveis, inexplicáveis, o choro de uma criança, o grito de uma mãe e depois, o silêncio. A morte reinava em todos os cantos, as luas assumiram uma cor avermelhada e começaram a jorrar sangue. O céu tornou-se negro e a escuridão a envolveu completamente. Novamente, fora transportada dali e agora, encontrava-se em uma caverna fria e úmida.

A voz em sua mente, daquela figura estranha, começou a falar. Não identificou o idioma, mas entendia tudo, como se fosse uma eterna conhecedora daquela língua.

- Você deve estar se perguntando onde está. Pois bem, você se encontra nas cavernas do subsolo do planeta Nelfos, a raça que há milênios tem a triste missão de devastar e se apropriar de outros mundos e sistemas solares.

Então ela foi levada para o centro, no subsolo do planeta Nelfos, e ficou admirada com as construções e a tecnologia. Tudo funcionava e interagia com o planeta perfeitamente, mas o mais incrível foi que captaram sua presença. Tão logo isso aconteceu, ela foi retirada dali, transportada para dentro de uma nave, onde pôde perceber que dois aliens pareciam dormir tranqüilamente, até que abriram os olhos, e disseram baixinho:

- Tem alguém aqui!

- Não pode, nosso sistema teria informado.

- Não, será que você não percebeu? É alguém que está usando outra dimensão para nos observar.

Sem entender como, achavam-se no corredor da nave. Ela olhou para ele, seus enormes olhos a fitaram. Os segundos seguintes pareceram eternos, o que ela sentiu não tinha explicação, era algo que jamais experimentara em toda a sua vida, uma energia maléfica. Tentou gritar, mas nada saiu, estava paralisada, não podia correr.Ele estendeu a mão em sua direção e disse:

-Terráquea?….

Sobressaltada, Valéria acordou. Seu corpo tremia, estava toda molhada de suor, seu coração parecia que ia sair do peito. Precisava urgente de um copo de água com açúcar. Levantou-se, ainda sentindo um pouco de vertigem. Olhou no relógio - três e quinze da manhã. Enquanto preparava a água, suas mãos não paravam de tremer e a imagem daquela criatura não saía de sua cabeça. Perguntava-se o que seria aquilo? E os lugares, onde seriam? Destruição? O que estava acontecendo?

À medida em que foi tomando consciência, as imagens começaram a desaparecer, acalmou-se e em seguida, voltou a dormir.

Alguns metros dali, no seu esconderijo, o comandante da nave alienígena, desesperado, gritava:

-Quem era ela, como ela conseguiu? Isso não poderia estar acontecendo!!!

-Ora, comandante, foi apenas um pesadelo.

-Não, você também viu. Descubra rápido qual a dimensão dela, ela era uma guardiã!

-Acalme-se, as guardiãs não existem mais, nós acabamos com elas.

-Não seja estúpido, eu senti as vibrações, descubra logo se é terrestre.

O assessor entrou em contato com o planeta Nelfos e recebeu informações de que já a estavam rastreando, pois tinham-na detectado em seu planeta também, mas até o momento nada haviam descoberto.

-Assim que souberem de alguma coisa, repassem-nos com urgência!

-Alguém mais está sabendo que pretendemos invadir a Terra, mas quem? - questionou o comandante..

Os aliens começaram mais cedo as suas atividades daquele dia. Tiveram medo de adormecer e abrir o portal do mundo dos pensamentos para alguém que nem ao menos conheciam. Acordados, nada poderia acontecer, e a dimensão estaria protegida - pelo menos, a dos sonhos.

ENQUANTO ISSO…

Eram duas horas da tarde quando Valéria acordou. Levou um susto quando viu o relógio em cima do bidê. Pulou da cama e, antes mesmo de poder reclamar com sua mãe, caiu, desmaiada, no chão de seu quarto.

Três dias depois, retomava a consciência, num quarto de Hospital , em Clevelândia.

Sentada em um cadeira encontrava-se sua mãe, tricotando nervosamente, absorta em seus pensamentos. Valéria ficou imaginando o que se passaria agora pela mente de sua mãe.

Tentou comunicar-se mas apenas a palavra “mamãe” saiu. Ouviu sua mãe apertar uma campanhia e logo apareceu um médico que lhe aplicou uma injeção. Aos poucos, a consciência foi retornando, enquanto o médico, calmamente, assistia a tudo. Ao perceber que Valéria estava acordada, disse:

-Que susto a senhorita nos pregou. Agora trate de comportar-se e fique mais calma. Logo, logo, você vai poder sair daqui e voltar para sua casa. Antes disto, gostaria de saber o que aconteceu para deixá-la neste estado de nervos?

-Não sei! - respondeu. Sabia que se contasse ele não iria mesmo acreditar.

-Foi alguma briga com o namorado? - perguntou ele à sua mãe.

-Não, senhor, ela não tem namorado, que eu saiba…

-Tudo bem. Vou ver um outro paciente, depois voltarei aqui, com certeza ela estará mais disposta e comunicativa.

No dia seguinte, Valéria recebeu alta e foi para casa. Um pouco mais calma, organizou melhor suas lembranças e, embora achando que tudo não tivesse passado de um estranho sonho, decidiu que iria pesquisar melhor o universo, estudar sobre os planetas e outras galáxias e, principalmente, saber se realmente existem as raças e o tal planeta Nelfos do sistema solar de Astrus. Decidiu também falar com alguns ufólogos e outras pessoas que já foram abduzidas, para trocarem idéias e saber realmente o que estava acontecendo. Ia começar sua pesquisa em Clevelândia mesmo, descobrir mais sobre aquela história de que um dia a cidade fora invadida por seres de outros planetas, apurar os dados e depois distribuí-los na Internet. Quem sabe alguém pudesse se interessar?

O INTERESSE DE UMA ESTRANHA ORGANIZAÇÃO NA HISTÓRIA DE VALÉRIA

“Os fatos continuam a existir, mesmo quando ignorados” (ALDOUS HUXLEY)

Naquele domingo, Valéria encontrava-se no computador, navegando na Internet. Havia várias páginas sobre ET`s, muitos absurdos, porém muitas histórias faziam-na refletir. Afinal, onde há fumaça, há fogo. Por que tantos relatos? Se não existissem não se falaria tanto, você já viu dois sóis no nosso sistema solar? Não tem, se não tem, ninguém fala porque não existe. Pensando bem, são milhares de páginas sobre o assunto… pessoas e governo insistem em negar, dizendo que tudo não passa de invenção de gente desocupada, outras que são fenômenos da natureza. O que eles querem tanto esconder, qual o objetivo disto tudo?

Será que existe uma conspiração interna, troca de tecnologia, com certeza os aliens não estariam interressados em nossa tecnologia, estão anos-luz a nossa frente. Então o que realmente quereriam do nosso tão desgastado sistema?

Ao conferir sua caixa postal, percebeu que tinha um e-mail com as iniciais O.C.A. (Organização de Combate aos Alienígenas).Olhou a data do envio, tinha recebido cinco dias atrás. Apressou-se em ler e teve a grata satisfação de saber que havia sido remetido por uma corporação que, durante séculos, estudou a existência dos aliens e seus propósitos com a raça humana. No e-mail diziam que sua história, sobre os últimos acontecimentos em Clevelândia, eram bastante estranhos, que não tinham conhecimento da existência dessa cidade e muito menos que tivesse sido invadida por seres de outros planetas, com o intuito de conquistar a Terra. Ficaram admirados ao saber que o porongo fora a causa da derrota da suposta invasão. Pediram mais detalhes, para depois mandarem uma equipe de investigação até Clevelândia - algo de concreto. Se possível, que Valéria descobrisse o local onde o gado charolês de duas cabeças e chifres fora enterrado, juntamente com a vítima, e que esse material lhes fosse enviado para analisarem; também gostariam de informações mais detalhadas sobre o ébrio e sua história no posto de saúde.

OS AMIGOS DE VALÉRIA

“Sempre achei que o homem é um estranho neste planeta. Um completo estranho. Sempre me divertiu a idéia de que a semente do homem talvez tenha sido um contágio do espaço exterior. Daí a nossa prévia ocupação com o céu, o firmamento, as estrelas e os deuses, algures, no espaço exterior”(Eric Hoffer)

Valéria não era um ser de completa solidão. Tinha, na verdade, um pequeno grupo de cinco pessoas que, assim como ela, eram fascinadas pelas histórias de ET`s, vidas em outros planetas, naves espaciais e abduções.

Todas as quartas-feiras reuniam-se e passavam horas trocando informações, revistas e livros sobre o assunto e, de vez em quando, visitavam locais onde achavam que as naves pousavam em Clevelândia.

Geralmente, Ana era quem achava esses locais. Ana era o talismã do grupo. De temperamento explosivo, não deixava para depois o que pensava dos outros, mas sua principal qualidade era seu o romantismo pela vida e energia positiva que dela emanava. Nas horas em que não estudava, estava à procura do misterioso, de histórias que aconteciam na cidade.

Era o tipo de adolescente que se apaixonava com facilidade, fazia meditação, era fascinada pelo Tibet e dona de um coração puro e uma alma inocente. Foi ela quem encontrou, pela primeira vez, o Local das Pedras, em Clevelândia. Segundo ela, depois de uma briga com o namorado resolveu caminhar, sem rumo. Quando se deu conta, estava em um local completamente diferente, cheio de pedras enormes e de estranha energia. Ana comunicou o grupo que, ao conhecer o lugar, batizaram-no como “O Local das Pedras”. Costumavam passar lá os domingos, quando não estavam na internet. Acreditavam que aquelas pedras eram asteróides que haviam caído na cidade, em uma época que nem era cidade ainda.

O mais interessante, contudo, era a energia que fluía no lugar, durante a noite. Era quase possível ver os feixes de luzes que saíam das pedras. Claro que, para isso, precisava ser sensitivo, como Ana: convenceu os amigos que, pelas suas pesquisas, os feixes de luzes costumavam sair das pedras nos momentos em que a cidade atravessava momentos criticos, principalmente em épocas de mudanças de líderes ou quando alguma coisa ruim estava para acontecer. O que ela não sabia explicar era se os feixes emanavam a estranha energia para provocar calamidade ou para normalizar - algo que era preciso descobrir com um certo grau de urgência..

Ana namorava Gilberto, o tipo de pessoa que não tinha medo de nada, desafiava o perigo, gostava de andar em alta velocidade e fazer rachas na cidade para, logo em seguida, fugir da polícia. O que fez Gilberto se interessar por ET`s foram as naves espaciais. Imaginava-se pilotando-as à velocidade da luz, em busca de mundos perdidos. Em seu quarto, podia-se perceber que essa fascinação beirava o fanatismo. Coladas nas paredes estavam diversas naves, desenhadas por ele, assim como recortes de revistas em que apareciam discos voadores. Todas as imagens de naves que ele pôde baixar da internet ele baixou, mas o interesse não parava aí. O fascínio não era somente pelas naves mas pela parte mecânica, pelo seu funcionamento. Isso incentivou-o a fazer Faculdade de Física. Dizia que, um dia, construiria a primeira nave, à velocidade da luz, e viajaria através dos tempos, em busca de civilizações perdidas.

A intelectual do grupo era Vanessa, belos cabelos cacheados e rosto como a brancura da neve, óculos de intelectual. Filha de pais ricos, tinha todo o tempo do mundo para estudar, tempo este que ela aproveitava ao máximo. Adorava ler, escrever e tocar piano. Além do piano, tocava bateria, guitarra, violão e flauta. Nos estudos sempre era destaque, aprendia com facilidade e, às vezes, surpreendia os professores com conhecimentos que ainda não tinham. Vanessa era mesmo super dotada, disso ninguém tinha dúvida. Afirmava a existência de vidas em outros planetas, como afirmava ser sua a imagem, quando estava na frente do espelho, e acrescentava: “Se não existir vida em outros planetas eu também não devo existir, é absurdo pensar que somos os únicos habitantes do universo”.

Importante para o grupo, sem dúvida, mas por trás de todo esse intelectualismo, escondia-se alguém com dificuldade de socialização, insegura e carente. Sentia-se nela algo grande com relação aos sentimentos e à intelectualidade. Seu amor pelas pessoas e, principamente pelos amigos, era enorme, o que ela insistia em esconder. Dizia que “demostrações de sentimento enfraquecem o ser humano”.

Mas quem Valéria mais se sentia à vontade era mesmo com Eduardo, o artista do grupo. Pintor nato, gostava de curtir e pintar a natureza em seus quadros. Passava horas nesta atividade e dizia ter visto muitos discos voadores nos locais em que estivera. Em muitos dos seus quadros aparecem ufos espalhados em todas as áreas. Eduardo era o preferido de Valéria e do grupo quando alguém estava com problemas e precisava desabafar - tinha conselhos para todos e realmente se importava com a vida de cada um. O maior problema era sua indefinição sexual. Sentia uma grande atração por pessoas do mesmo sexo e isso, em Clevelândia, era um assunto extremamente delicado. Até mesmo Valéria admirou-se com ele, quando ficou sabendo que ele estava se apaixonando por um cara que sempre pintava em seus quadros. Ficou surpresa e soube que o amor era secreto. O medo de revelar seus sentimentos, ser mal compreendido, perder o amigo e seu amor para sempre eram evidentes. Por isso, contentava-se em vê-lo de vez em quando e conversar com ele. Disse que esse amor não era carnal, beirava o extremo espiritual, que Clevelândia não era cidade para viver, logo, logo ele iria embora, para algum local onde as pessoas tivessem as mentes mais abertas. “Pobre Eduardo” - pensava Valéria - “realmente o coração e a palavra amor não tem sexo, são palavras masculinas e femininas”

PROCURANDO AS EVIDÊNCIAS

Valéria reuniu o grupo naquele final de tarde de domingo, no Local das Pedras, com o objetivo de repassar os últimos acontecidos. Detalhou seu sonho, falou que enviou, via net, as pesquisas dos fatos estranhos em Clevelândia, nos últimos dias e que, depois de muito tempo, recebeu um e-mail, de uma estranha organização, prontificando-se a ajudá-la se lhes enviasse fatos que não fossem só palavras. Enfim, teriam que descobrir onde estava o corpo do animal de duas cabeças, desenterrá-lo e enviar fotos e documentários, bem como um pedaço de seu corpo para pesquisas mais aprofundadas, além de um relato mais profundo sobre aquela estranha mutação do ébrio no posto de saúde.

O grupo não tinha a mínima idéia de que os fatos fossem verdadeiros, quanto mais desenterrar esse animal e, pior ainda, onde seria o local do fato… E como entrar nos arquivos do posto de saúde?

-Acredito que isso tudo aconteceu. O animal, juntamente com o peão, estão enterrados nas proximidades do Rio São Francisco - disse Ana.

-Como você sabe? - perguntou Valéria.

-Todos sabem que vou praticar meditação na cascata, pelo menos três vezes por mês. No dia que aconteceu aquilo, eu estava meditando, quando vi um grupo de pessoas vindo na direção do rio. Me escondi e acompanhei o fato, porém não desconfiei de nada. Afinal, isso é normal, de vez em quando morre algum animal afogado por ali, mas agora começa a fazer sentido. Pensando bem, foram feitas duas covas, e eu sei o local exato! Vamos lá para desenterrá-los, se for verdade, ainda estarão lá.

-Ótimo, tem que ser hoje mesmo, nos encontramos onde?

Questionou Valéria.

-Às sete e meia, em frente da Igreja Matriz -respondeu Ana. Está bem pra vocês esse horário?

-Tudo bem, só não esqueçam de levar o material, como lanternas, pás, etc.- lembrou Gilberto.

- E o posto de saúde?

-Eu tenho um amigo hacker - manifestou-se Vanessa - vou pedir para ele invadir o sistema.

-Está bem, então até o horário combinado e com as ferramentas.

O ENCONTRO COM A VERDADE

“Nada é impossível. O Impossível leva apenas um pouco mais de tempo” (Almirante Halsey)

Eram sete e meia da noite. Todos se encontravam na frente da Igreja Matriz quando Gilberto estacionou sua camionete. Vanessa defendia que ir de carro despertaria muitas suspeitas, deveriam ir a pé, por uma trilha. Um carro por lá iria chamar a atenção de algumas pessoas, até mesmo dos responsáveis pela camuflagem da história.

-A pé? Com essa neblina vai ser uma aventura e tanto - disse Eduardo.

Começaram sua peregrinação, em direção ao Rio São Francisco. Quando estavam próximos do Parque de Exposições, perceberam que a neblina tornara-se muito forte, quase não dava para se ver nada.

Cortaram o caminho pelo Bosque do Parque, pegaram a direção do Rio São Francisco, passando pela pista de Kart.

De repente, Valéria começou a sentir-se mal. Como o grupo estava bem à frente, não perceberam, de imediato, a falta de Valéria.

-Valéria, que tal você contar uma daquelas misteriosas histórias que você nos conta, de filmes de terror?

A sugestão partiu de Gilberto que, ao não obter resposta, olhou para trás.

-Hein, onde está Valéria? Ela sumiu, vamos voltar…

Voltaram e encontraram-na, desfalecida.

-Valéria, acorde, pelo amor de Deus! - disse Eduardo.

-Gente, ajudem aqui, alguém trouxe o celular? - lembrou Ana

-Não, não liguem para ninguém, eu estou bem - falou Valéria, voltando a si.

-Quer nos matar de susto?

-Não sei o que aconteceu, mas ao entrar nesta pista comecei a sentir vertigens, tentei avisar vocês, eu só via vocês se distanciando mais e mais de mim, até que desmaiei. Meu Deus, a energia negativa que tem aqui é muito grande, não consigo me lembrar onde, mas já senti algo assim.

-Eu sei - disse Ana. Pegue na minha mão, vou rezar por você. Vocês não sentem, mas algo está errado aqui, o ar está carregado, quase não dá para respirar.

Deram-se as mãos e rezaram.

-Vamos - convidou Vanessa - está na hora de sairmos daqui, você consegue agüentar até o São Francisco?

-Claro, me sinto melhor, já está passando, vamos…

Novamente tomaram a direção do São Francisco e, ao pisar a estrada de chão, decidiram que amarrariam uma corda um no outro, assim ninguém se perderia.

Logo chegaram na mata e dirigiram-se para o Rio. A escuridão era completa; o céu, envolto por uma forte neblina. Nnguém conversava, as palavras só deveriam ser pronunciadas em caso de extremo perigo.

Já passava das oito e meia quando ouviram os ruídos da queda da cascata. De dia era encantador, mas naquele horário, as quedas de São Francisco tornavam-se bastante sombrias. Dava para ver apenas uma parede branca, cortando a escuridão. Lentamente, Ana conduziu-os ao local onde, supostamente, foram enterradas a anomalia e sua vítima.

-Passa a pá - pediu Ana - foi aqui neste local que enterraram a criatura.

-Como você sabe?

-Isso não interessa agora, passa logo a pá.

-Deixa que eu cavo - propôs Gilberto.

O silêncio foi interrompido apenas pelo barulho de Gilberto cavocando.

-Não dá pra fazer menos barulho?

-Só se eu cavocasse com a mão.

-Está bem, continue então, mas seja rápido com isso.

Passaram-se quinze longos minutos. A pá tocou em algo, e o que se seguiu foi o mais puro momento de euforia.

-Ligue as lanternas, rápido, rápido - pediu Eduardo, eufórico.

-Meu Deus, o que é isso? Observem, o animal está em perfeito estado.

-E essas duas cabeças com chifres enormes, que coisa horrorosa - disse Vanessa. Deve ser algum problema na manipulação genética do animal, a mãe deve ter se alimentado de alguma coisa com muito hormônio.

-Sei não, essa criatura me dá arrepios. Rápido, me passa a máquina pra tirar as fotos - falou Valéria. Nossa, parece que está viva e a qualquer momento vai nos atacar.

-Ora, pare de tolices, tire logo as fotos - sussurrou Ana.

Valéria tirou todas as fotos, em seguida pegou a faca de sua mochila e cortou o pescoço da criatura de duas cabeças.

-Vamos levar, temos que enviar esse material para o pessoal da organização - disse, colocando dentro de um saco preto e guardando na mochila..

-É muita coragem sua pôr esse bicho na mochila - disse Gilberto, admirado.

-Eu sei, estou apavorada. Ah, não esqueçam, precisamos desenterrar o peão que foi morto pela criatura.

-Onde ele foi enterrado, Ana? - perguntou Gilberto.

-Deixe-me lembrar… Humm, ali, bem perto daquelas pedras.

Durante algum tempo cavaram e nada encontraram. O barulho da pá, ao bater em algo, interrompeu-os. Ao iluminar o ambiente, perceberam que era o crânio do peão, em avançado estado de decomposição.

Valéria apressou-se com as fotos - o cheiro era muito forte e precisavam ir embora antes que chegasse alguém.

-Que coisa! O que quer que tenha acontecido foi com extrema violência e brutalidade. Coitado, completamente indefeso diante de uma criatura estranha e desconhecida - disse Valéria.

-Não toque neste crânio, Valéria - alertou Gilberto - pode ser perigoso.

-Tudo bem, eu não vou tocar. Pronto, agora você pode enterrar, já temos material suficiente.

Gilberto enterrou novamente o crânio do peão, assim como os restos da criatura e voltaram para a cidade.

-Estou com a sensação de que estamos sendo observados.

-Eu também, Valéria - sussurrou Ana.

-Vocês estão com medo e o medo desperta estranhos pressentimentos, não se preocupem - lembrou Vanessa.

No caminho de volta para a cidade, sentiram tantos calafrios que não viam a hora de chegar em casa. Decidiram que não passariam pela pista do Parque de Exposições.

Aproximadamente às duas horas e trinta minutos, estavam na praça da Igreja Matriz. Com ares de missão cumprida, repassaram as últimas horas, depois cada um foi para a sua casa.

Valéria, como sempre, ficou com a parte mais difícil: a responsabilidade de manter o material coletado no Rio São Francisco. Na mochila, as duas cabeças da criatura despertavam seus medos mais escondidos. Só queria que o dia amanhecesse para despachá-la, de uma vez por todas, e saber logo o que estava acontecendo em Clevelândia.

Se sua intuição estivesse certa, algo pior estaria por vir. Desejou ardentemente estar enganada mas não se lembrou de nenhuma vez que houvesse falhado. “Espero que falhe agora, sempre tem uma primeira vez” - desejou.

Valéria não dormiu e, quando o dia amanheceu, foi direto para o correio. Respirou aliviada depois de haver despachado o material.

-Pronto, agora não é mais comigo - pensou. Espero que os caras da O.C.A. não sejam mentirosos e me respondam a verdade sobre o assunto.

Naquele dia, faltou à aula. Não agüentando de sono, foi para casa, deitou-se, deixou o rádio ligado e, aos poucos, foi relaxando.

O CHAMADO

“Tudo está no tudo porque o passado e o futuro estão contidos num eterno presente, no centro do invariável meio está a igual distância de todos os tempos….O rio tem sua alma, seu intelecto, seu pensamento; a montanha sonha, os prados vêem, falam e ouvem. A Terra inteira é um imenso e complexo organismo provido de centros onde deve acumular-se uma inteligência-energia que até o presente somente os empíricos souberam descobrir. Como todo organismo, ela tem uma matriz: o mar, um ventre; o solo, um sistema nervoso; o circuito, correntes telúricas, e muito provavelmente ela tem também zonas para a sua cabeça e o seu coração: naquele lugar em que desabrocham e se desenvolvem as civilizações e os melhores instintos humanos. A Terra esconde as cidades antigas, esconde a história passada, as civilizações desaparecidas, talvez com uma lenta e enorme malícia” (Robert Charoux - O Livro do Passado Misterioso)

Adormeceu pesadamente. Os sonhos e as imagens começavam a fluir com maior intensidade… a criatura, o momento de seu nascimento, a maneira como ela dilacerou aquele ser humano… Com as entranhas do peão em suas duas bocas e os dois pares de chifres enormes, ela procurou Valéria, vinha em sua direção com toda a fúria e violência. Começou a correr, desesperadamente. Sabia que estava dormindo, queria acordar mas não conseguia. A criatura a estava quase alcançando. Agora já não existe mais aquela criatura, surge ele, a estranha figura da outra vez, frente a frente com ela. Veste uma longa capa branca, faz um gesto com a mão, em direção ao infinito do céu. Um portal se abre, ela é convidada, naquela estranha língua, a atravessar. Passa para o outro lado e realidade e sonho se misturam, numa estranha nostalgia.

Valéria se via pequenina, correndo no gramado de sua casa, segurando uma boneca, quando de repente ouve a voz de sua mãe:

-Valéria, entra, está na hora de tomar banho.

-Já vou, mamãe.

Deixa a boneca cair e ela começa a tomar a estranha forma de um humanóide, completamente negro e com os olhos grandes e fundos. O chão e o gramado parecem se dissolver aos seus pés. Esboça uma fracassada tentativa de fuga, olha para trás e vê sua casa ser tragada pela escuridão, olha para a frente e depara-se com uma espaçonave de proporções gigantescas. Tinha a cor da noite e navegava silenciosamente, espreitando, estudando, como se estivesse pronta, a qualquer momento, a atacar sua presa.

Valéria não é mais uma criança. Diante do espelho, tenta reconhecer a estranha imagem, familiar, o rosto enrugado, cabelos esbranquiçados pela ação do tempo e olhos sem vida e sem luz. Percebe-se no futuro, uma lágrima escorre-lhe pelo rosto. A imagem vai se desfazendo aos poucos, até que, no espelho, aparece uma caveira de um humanóide que gargalha, e essa estranha risada vai sumindo, junto com a figura, até que desaparece completamente, ficando em seu lugar o vazio, sem refletir imagem alguma, a não ser ela, Valéria. Ela levanta, atravessa o espelho. Do outro lado, enxerga o paraíso. Anjos alados, espalhados, vão conduzindo-na por uma trilha encantada. Tudo é festa, alegria. Pétalas de flores caem do céu, flores vão surgindo em seu caminho. A magia e o encanto daquele lugar enchem o coração de Valéria. Sabia que estava em um sonho, mas não queria acordar.

-Você precisa voltar, agora começará de fato sua jornada pela terra da morte.

-Quem está falando?

-Aquele que tem as chaves dos sete tempos. Seis das portas já foram abertas.

-Você é Deus?

-Não, sou apenas um servo, pequenino. Sou o GUARDIÃO OBSERVADOR, e tenho a missão de transmitir a você o que vi através de portais e dimensões, através dos tempos. Você deverá decidir se irá ou não assumir sua verdadeira identidade; afinal, você tem o poder de escolha para decidir sua missão na Terra.

-Qual é a minha verdadeira identidade? Perguntou Valéria - falando naquela estranha língua.

-Acorda, Valéria, acorda, menina! Hora de acordar, vamos. Meu Deus, será que vai começar tudo de novo…

A mãe de Valéria já estava indo ligar para o médico, quando ouve, aliviada, a voz de Valéria.

-Não precisa, mamãe, eu estou bem. Quantos dias eu dormi desta vez?

-Tudo bem, minha filha, você dormiu apenas quatro horas, é que tenho andado muito preocupada com você.

-Mãe, você não precisa se preocupar comigo. Eu estou pressentindo que precisamos é nos preocupar pela luta da sobrevivência do ser humano na Terra.

A mãe de Valéria pensou: “Pobre menina, está ficando igual ao pai. O problema é que ele tinha razão! O que será que o universo está conspirando desta vez?”

-Vou ver o que podemos fazer.

-Mamãe, você acredita em mim?

-Acredito, filha, sempre acreditei, por quê?

Valéria, empolgada, relatou os acontecimentos dos últimos dias: os fatos estranhos, a ida da turma até o Rio São Francisco e o sonho que acabara de ter.

-Filha, se isso tudo for verdade, precisamos contatar seu pai… Ele tem as respostas para tudo isso.

-Você sabe onde ele está?

Ela, então, resolve abrir seu coração e contar a verdade.

-Há muito tempo, quando ocorreu a estranha invasão de Clevelândia, e você ainda era um bebê, seu pai, de certa forma, já sabia, com muita antecendência. Tanto é que através de seus sonhos, esses mesmos que você tem, recebeu a fómula que manipulava o porongo, dizendo que deveria ser plantado com urgência em todos os locais da cidade. Com essa planta, o planeta ficaria a salvo dos ET’s. Bem, o resto da história você já sabe. É verdadeira. Depois de alguns dias, apareceram por aqui uns homens estranhos, vestidos de terno e gravata, com óculos escuros. Eram americanos, pude perceber, mas não entendi nada do que falavam. Simplesmente colocaram seu pai no carro, ele tentou resistir, mas inalou algum material, não sei o quê, ele caiu, inconsciente e essa foi a última vez que o vi.

-Será que o mataram?

-Acho que não, seu pai se tornou alguém que detinha em seu poder segredos que não poderiam ser revelados. Exatamente no dia do seu aniversário, no seu primeiro aninho, recebi uma ligação em que ele dizia: “Não me pergunte nada, é melhor para você e para a nossa Valéria, como ela está?”

-Bem, é um bebê muito forte - respondi.

-Ótimo, como gostaria de estar aí, Deus guarde vocês .

-Então ele desligou o telefone e foi a última vez que ouvi sua voz.

-Mas isso já faz muito tempo.

-O que é o tempo, minha filha? Seu pai uma vez me disse que entre o tempo e o nada apenas o nada existia.

-Como pode ele dizer que o nada existia?

-Ora, o tempo é algo humano. Foi criado para organizar a nossa caminhada na Terra, para termos no que nos basear. Mas não existe. Seu pai dizia que conhecia dimensões onde passado e futuro se encontravam e interagiam de formas diferentes. Aqui mesmo, em nosso mundo. Eu era sua esposa, companheira, apaixonada. Muitas vezes eu não o entendia, deixava-o falar, achando que isso era melhor para ele do que para mim… quando chegar a hora da verdade, vamos compreender, e você deve estar mais ciente do que eu desta hora.

-Sim, mamãe.

-Agora, filha, não vamos mais tocar neste assunto, pelo menos por enquanto.

Valéria ficou admirada e feliz. Poderia contar com mais uma grande amiga, sobre um assunto que pensavam que era loucura de sua cabeça. Tudo bem, um dia queimaram um “louco” quando ele se atreveu a dizer que a Terra não era plana, e mais outro “louco” quando disse que a Terra não era o centro do universo… Mas como será que ele ficou sabendo disto, se naquela época não existia o avanço tecnológico de hoje? Seriam mesmo puramente só cálculos? Ou eles ficaram informados do assunto através de contatos com seres que viajavam pelo espaço e revelaram a eles a verdade? Profundo, não? Com certeza a verdade é uma só, aceitá-la é uma questão de opinião.

O.C.A. (ORGANIZAÇÃO DE COMBATE AOS ALIENÍGENAS)

“Os arqueólogos procuram a origem do homem no barro, nós procuramos, com olhos brilhantes, a nossa origem nas estrelas” (W.Raymond Drake)

Sabe-se da existência da OCA há exatamente 250 anos. Algumas pesquisas mostram, no entanto, que é ainda mais antiga. Foram encontrados manuscritos no Tibet e no Mar Morto, os quais relatavam sobre a organização - um grupo de pessoas que combatiam entidades de outros mundos, atravessavam dimensões e vinham se alimentar da força vital de seres humanos. Essa organização detinha, em seu poder, conhecimentos que neutralizavam as ações destas entidades, conhecidas como vampiros.

Os “Vampiros” gostavam de se alimentar com o sangue de suas vítimas. As pessoas que sofriam os ataques logo tornavam-se pálidas, deliravam por algum tempo e depois morriam.

Em um antigo pergaminho, encontrado nos escombros de uma sala do Vaticano, é descrita a mesma história. O autor diz que esses vampiros, na realidade, não tomavam o sangue dos humanos e sim a energia vital. Muitos foram enterrados no solo do Vaticano, por não suportarem locais sagrados. Ressaltou que muitas das vítimas foram enterradas juntas, por estarem passando por uma mutação e transformando-se em vampiras. Dissera ele:

“É impressionante o cheiro da morte nessas pessoas, definitivamente assustador. Mesmo com temperatura muito abaixo de zero, permanecem vivas, sem batimentos cardíaco e nem pulso. Tivemos que enterrar muitas delas vivas; mais tarde, descobrimos que eram sensíveis à luz do sol e que essas estranhas entidades só eram mortas quando se encravava uma cruz de prata, em forma de estaca, no peito”.

Aquelas que tinham conhecimentos para enfrentar essas criaturas recebiam-nas em sonhos e profundas meditações e acreditavam vir de Deus.

Sem dúvida, a organização era milenar e atravessou os tempos lutando contra entidades hoje conhecidas como alienígenas. Os aliens que se alimentam da força vital humana, ou de qualquer outro ser vivo da face da terra, são seres provenientes de mundos que sofreram alguma espécie de destruição, de ordem natural ou não, passaram por mutações genéticas e alimentavam-se pouco.

Dependentes do estado em que seu mundo ficou, mas intelectualmente desenvolvidos, capazes de dominar a tecnologia e conhecer os caminhos do universo, alguns destes seres não tinham o conhecimento do bem e do mal. Outros eram bons e depois do cataclisma tornaram-se maldosos, existiam os totalmente maléficos e haviam, ainda, aqueles que se alimentavam somente de animais, porque não queriam ferir as raças dos planetas - algo em sua identidade não lhes permitia cometer tal atrocidade.

Era necessário, no entanto, o extermínio de todos e, diariamente, essa organização trabalhava no planeta em busca desses seres, destruindo-os. Não era difícil detectar sua existência entre as massas e os locais prediletos para o ataque. Geralmente, agiam no período noturno, em segredo, quando a presa era mais vulnerável. A luz do sol não lhes era agradável, embora alguns, quando famintos, se expusessem à ela, durante pouco tempo, sem sofrer danos.

Até hoje não se sabe o motivo pelo qual a cruz de prata em forma de estaca é a única arma contra eles, mas acredita-se que devam ser sensíveis à prata e/ou à religiosidade. Talvez seja a negação do Criador e do seu Filho, por parte dessas criaturas. De uma coisa podia-se ter certeza: não eram do bem.

Existem boatos, na Internet, de que no Último Concílio, o Vaticano abordou o assunto com grande intensidade, classificando-os, finalmente, como anjos caídos. Descritos na Bíblia, diz-se que estariam vivendo em outra dimensão, e que somente agora teriam resolvido se materializar. Nada foi provado, principalmente que o assunto tenha sido pauta de discussão no Vaticano.

Mistérios à parte, a Organização vai guardando as antigas tradições, cumprindo sua missão, deixada pelos seus antepassados, assim como todos os artefatos usados nas lutas, em outras eras.

A ORGANIZAÇÃO - PARTE II

Já passava das três horas da tarde quando Geraldo recebeu o telefonema do correio, informando que havia chegado uma encomenda e que deveria passar lá para retirar.

Geraldo era Membro da Organização desde os quinze anos de idade. A função que herdou de seu pai: analisar as histórias e procurar os principais pontos onde provavelmente seriam feitas novas vítimas - a idéia era chegar lá antes do portal começar a se abrir:a surpresa é a melhor defesa.

Quando recebeu o pacote das mãos do funcionário do correio, um arrepio lhe percorreu o corpo e pensou: “Seja o que for, é verdadeiro o que se encontra aí dentro”.

Depois de tudo acertado, pegou o embrulho, levou-o até seu carro, colocou no assento do caroneiro e foi para o QG.

Somente ao chegar lá, observou de onde tinha sido remetida a encomenda: CLEVELÂNDIA.

- Onde raios ficaria esse lugar? Perguntou-se.

Antes de abrir o pacote, foi no computador e lá localizou a cidade. Percebeu que era o mesmo lugar de onde viera o e-mail de Valéria.

-Deus, e eu achei que aquela moça era uma destas malucas. Será que ela mandou mesmo o material que pedimos no e-mail? Bem, a única maneira de saber é abrindo…

Abriu o pacote e, boquiaberto, estupefato, empalideceu e teve que sentar. Imediatamente, comunicou o restante do pessoal, dizendo que acabara de receber uma encomenda urgente. Finalizou dizendo nunca ter visto algo tão estranho em sua vida.

Menos de uma hora se passara quando se encontraram no laboratório de Geraldo: pesquisaram e estudaram em detalhes o material recebido. O silêncio só era quebrado pelas teclas do computador, a concentração era absoluta, dados eram enviados e recebidos por outros membros espalhados ao redor do mundo. Comunicando-se através da internet, a organização possui mais de quinhentos membros, todos em plena atividade, e, neste momento, estavam recebendo todas as informações daquela importante descoberta.

Depois de três dias de pesquisa, a organização deparou-se com o seguinte prognóstico: Mutação genética em fase inicial, radioatividade e magnetismo envolvidos no processo de formação óssea, atuando também nas células tronco. Reversão no código genético em fase inicial. Causa: presença de material extraterrestre, responsável pela contaminação da mãe. Obs.: outros animais podem sofrer a radiação. Diagnóstico: Não encontrada a cura. Se alguma criatura sobreviver deve ser sacrificada com urgência.

Com tanto magnetismo detectado, era bem provável que os Ovnis estivessem sondando a cidade há tempos, mas qual seria o objetivo?

- Deve ser uma invasão - disse um dos colegas de Geraldo - já que consta no e-mail de Valéria que uma vez a cidade já foi invadida, e os fatos estranhos, o que pensar sobre eles? Tudo muito sinistro, mas nada consta em nossos registros. Qual o interesse em começar uma invasão por lá? Quais os segredos que Clevelândia possui para ter chamado a atenção dos extraterrestres?

-Sei lá, melhor seria averiguar e mandar uma equipe o mais rápido possível, pode ser que não seja nada, mas pode ser que você esteja mesmo certo - completou Geraldo.

- Mas quem?

-Nós mesmos. O caso merece a nossa atenção. Amanhã partiremos às sete horas.

-Amanhã?

-Sim, estou com um estranho pressentimento. Por mim, partiríamos agora mesmo, mas antes vou passar um e-mail a um velho amigo que está pesquisando no Egito. Se ele concordar comigo, estamos prestes a presenciar um dos maiores acontecimentos da história da sociedade moderna.

-Que acontecimento?

-O grande dia chegou, milhares de seres alienígenas com um objetivo comum, tomar o nosso planeta, e já estão nesse exato momento se dirigindo pra cá!!

-Como você sabe disso?

-Intuição, pura intuição… E se estiver certo, estamos correndo grande perigo.

Dizendo isto, enviou o e-mail. Exatamente cinco minutos depois, ouviu o bip em sua caixa postal - era a resposta do amigo: “Me esperem, estou partindo no primeiro avião, chego amanhã, às seis horas”.

CLEVELÂNDIA EM SITUAÇÕES COMPLICADAS

“Um dos princípios fundamentais da Lei da Compensação é o de que, para cada pesar ou alegria que causemos a outrem, deveremos viver experiências no mesmo grau e natureza em momentos em que as lições a serem assim aprendidas causem mais forte impressão. Esse princípio não exige olho por olho e vida por vida, pois não há vingança nesse processo, ou qualquer intuito em causar sofrimento. A única finalidade do Carma é nos ensinar uma lição, de nos conscientizar dos nossos erros e fazer com que desse modo aprimoremos nosso discernimento”(Manual Rosacruz - AMORC)

O líder clevelandense acordou com um estranho pressentimento naquele dia, sua mente povoada de pensamentos negativos, como se não fosse conseguir resolver os problemas mais simples do município.

E ele tinha razão. Antes mesmo do café, o telefone tocou. Eram os responsáveis pelos estudos sobre a súbita peste que se espalhara sobre o porongo.

-Alô, prefeito?

-Sim, é ele, quem fala?

-Não temos boas notícias. Pelas nossas pesquisas, a peste que se espalha no porongo não é conhecida. Não conseguimos isolá-la porque não temos tecnologia para isso. É como se ela não deixasse ser isolada para estudos e, não existe, em nenhum lugar do planeta, tal peste, se é que podemos chamá-la assim. Um antídoto para eliminá-la levará tempo indeterminado… sinceramente, a situação está complicada, Sr. Prefeito.

-E por que o solo não produz mais porongo?

-Por causa da peste, a terra se torna estéril, improdutiva, aliás, qualquer coisa que se plante hoje em Clevelândia não vingará.

-Mas vocês não podem fazer nada?

-Estamos totalmente indefesos…

-Que droga, pra que é que eu pago vocês? Pra me dizerem que estão indefesos, diante da falência do município? É o seguinte: vocês têm vinte e quatro horas pra encontrarem a solução. Se nesse prazo não apresentarem algo convincente, aceitarei o pedido de demissão com o maior prazer.

-Sentimos muito, prefeito. Neste caso , estamos nos demitindo agora.

-Ótimo, podem passar lá na prefeitura para acertarem e depois nunca mais quero vê-los na minha frente.

Desligou o telefone, em profundo estado de nervos, e pensou: “O que farei agora? Será que não existe ninguém competente para descobrir um método de eliminar essa praga que se alastra em nosso município, será que Clevelândia se tornará uma terrra improdutiva? Não, eu não vou deixar isso acontecer”.

De casa mesmo ligou para o seu assessor e pediu para convocar uma reunião de urgência com todos os vereadores e secretários de confiança .

-Mas prefeito, ainda são seis e quinze, eu nem levantei e…

-O quê? Saia agora da cama! Seis e meia quero todo mundo reunido lá na Câmara. E quem chegar atrasado vai ter o salário descontado em 50%.

-E o senhor pode fazer isso?

-Me testa, vai…

-Não senhor, seis e meia estaremos lá.

-Ótimo.

Mal desligou o telefone, tocou novamente.

-Alô, bom dia prefeito.

-Quem está falando?

-Áqui é o encarregado pelo transporte das cuias até as fábricas. Estamos com muitos pedidos, as fábricas estão nos pressionando, dizendo que o estoque acabou, e agora não tem mais porongo. O sr. poderia me dizer onde tem porongo pronto?

-Não tem mais e você acaba de ser convocado para uma reunião de urgência.

-Que horas?

-Agora, estou te esperando na Câmara de Vereadores.

“Calma, existe solução pra tudo, nós vamos conseguir sair dessa, impossível que não exista um antídoto, existe antídoto pra tudo” - suspirou, ao desligar.

Pega as chaves do carro, dá a partida, e sente que o dia realmente não começou bem - nem sinal de arranque.

-Mas que “coisa”! O que aconteceu agora?

Tentou de novo, e de novo, e outra vez. Irritado, desistiu, pegou sua pasta e foi a pé para a reunião.

- Melhor, quem sabe uma caminhada melhore meu humor.

Subindo em direção à prefeitura, na esquina que vai ao clube da cidade, próximo a um grande edifício, observou um monte de gente na Praça Getúlio Vargas, com faixas e cartazes, outros acampados, tomando chimarrão, e outros fazendo sua higiene matinal.

-E agora, o que é isso? De onde veio esse povo todo? Não sei, melhor dar a volta por trás, sair na avenida e tomar a rua da câmara sem ser visto, isto está me cheirando a confusão, e das grandes.

Voltou pelo caminho da Rua do Clube, virou a primeira quadra, à esquerda, caminhou mais três quadras, subiu à esquerda, atravessou a rua da rádio, passou pela avenida e, em seguida, pegou a rua que dava acesso à Câmara. No caminho, tomou uma decisão: “Ainda hoje vou convocar a imprensa, deixá-la a par de tudo o que está acontecedo”.

Chegou à Câmara Municipal, onde todos o aguardavam. Em silêncio, cara de poucos amigos, começou a explicar os últimos acontecimentos, que culminaram naquela reunião. Em seguida, perguntou:

-Alguém tem alguma idéia de como reverteremos esse problema?

O silêncio foi assustador e pareceu eterno. O ponto em que a situação chegara fora mais curto do que o esperado, e as autoridades, todas, pegas de surpresa.

Então ele acrescentou:

- Pelo menos alguém pode me responder o que aquelas pessoas fazem lá na praça a essas horas?

-É mais um problema, prefeito - respondeu um vereador. A oposição se juntou com um grupo de sindicalistas e, diante dos fatos e do constante caos com as indústrias e a quebra na safra do porongo, eles estão exigindo uma atitude de pulso firme de sua parte. Até o meio-dia de hoje, eles lhe entregarão as exigências que ocasionaram o manifesto. Caso o senhor não as cumpra com rapidez, pedirão sua renúncia.

-Ótimo! Liguem para a polícia, convoquem o exército! Pode haver uma revolta, diante do que vou explanar para eles.

Pensou: “Nem sabem direito o que está acontecendo e querem a minha renúncia, bom seria se eu nunca tivesse sido prefeito, agora não estaria com essa bomba na mão, prestes a explodir”.

O PRIMEIRO ATAQUE DOS ET`S

“Considerando a situação e todos os dados precedentes, esta comissão está convencida da existência dos chamados Discos Voadores e acredita que a sua origem seja extraterrestre” (Conclusão do relatório ultra-secreto do Projeto Sign - 1948)

-Assessor, como estão as coisas esta manhã?

-Perfeitas, comandante, tudo está acontecendo como planejamos, o caos começa a se iniciar em Clevelândia.

-E o prefeito, como está?

-Totalmente sem rumo.

-Você deu o curto no carro dele?

-Sim, com perfeição.Depois daqueles telefonemas, foi o golpe de misericórdia para abalá-lo ainda mais. Olhando daqui, ele parecia um ébrio andando pela rua, sem saber que direção tomaria.

-Excelente! Quando os nervos são atingidos, não existe lugar para o raciocínio, em pouco tempo ele estará eliminado. Como está o centro neste momento?

O ET observou no monitor, acoplado à nave, em um telão:

-Perfeito, as pessoas estão esperando alguém acender a pólvora para iniciarem uma revolta sem precedentes na história do município.

-Ótimo, vamos fragilizá-los o máximo possível. Depois que eles estiverem divididos entre si, atacaremos com a segunda parte do plano. A propósito, todos os porongais secaram?

-Sim, senhor.

-E os que foram plantados recentemente?

-Não vingaram.

-Ótimo, a defesa deles já está vencida, agora é apenas uma questão de tempo. Depois a surpresa.

-E a reunião na Câmara?

O ET apontou com o dedo em direção ao telão. As imagens da Praça Getúlio Vargas ficaram em tamanho menor, no canto direito da tela, e, no espaço maior, acompanhavam o desenvolvimento da reunião.

-Eles estão sem estratégias, quase sinto pena deles.

-O que iremos fazer agora?

-Vamos nos disfarçar de humanos, entrar no meio do protesto na praça e fazer a maior confusão entre os terráqueos clevelandenses.

-Ótimo, a cidade será nossa, e não vai ser preciso agredir os humanos numa luta armada. Diga-se de passagem, se não fosse a Terra nos oferecer todas as condições necessárias para a proliferação de nossa raça, queria despedaçar esses malditos terráqueos. Mas guerra é guerra, e cada batalha é uma história que será escrita. Quem sabe ainda lutaremos. Guerra sem luta, corpo a corpo, não tem muito sentido.

-O senhor quer dizer sem mortes?

-Isso é apenas uma questão de ponto de vista, agora chega de conversa e vamos nos transformar em humanos.

Entraram na máquina e a transformação se iniciou (impressionante como, aos poucos, foram tomando formas humanas). Sem dúvida, a constatação do domínio da tecnologia, a perfeição em que ficaram em poucos minutos, demonstrava claramente a fraqueza e o atraso dos terrestres, que começavam a engatinhar em suas viagens e descobrimentos espaciais -levará muito tempo para os humanos alcançarem o avanço tecnológico daquela raça.

-Comandante, vamos usar o tele-transporte?

-Ainda não. Vamos caminhando, hoje o tempo está nublado, não há perigo do sol prejudicar nossa pele.

Em pouco tempo chegaram à praça, onde beirava o caos.

A MULTIDÃO

“Não deveríamos em hipótese alguma cruzar nossos braços diante das dificuldades humanas enfrentadas pelos nossos líderes, porém sermos envolvidos por mentes que buscam na dor , na morte e no caos resultados para sua alto satisfação, é no mínimo terrível.”

Não eram dez horas da manhã e já se acumulavam mais de cinco mil pessoas, envolvidas no protesto. Pior, não paravam de chegar. A cidade parou, para cobrar uma atitude das autoridades sobre a situação calamitosa em que o município se envolvera. Na praça, gritos de ordem vinham de todas as partes. Os líderes instigavam as pessoas com discursos calorosos, beirando a emoção.

-Senhoras e Senhores, hoje estamos prestes a entrar na história dessa terra, que será contada pelos nossos netos, que se orgulharão de dizer que um dia seus avós, heroicamente, viraram as páginas do livro da vida e tomaram o poder, porque não estavam satisfeitos com a situação em que viviam. Contarão, com o peito cheio de orgulho, que o sangue que correu nas veias de seus avós, desbravadores e corajosos, era puramente clevelandense. Lembrarão que muitos derramaram esse mesmo sangue para que existisse futuro e dignidade e, notadamente, progresso e felicidade para a nação clevelandense.

Houve um momento de pausa, depois, os aplausos da multidão, embriagada pelo discurso, enfurecida pelo desejo de revolução.

O líder recomeça o discurso:

-Senhoras e senhores, não é justo que meia dúzia de pessoas nos governem tão vergonhosamente e, diante do caos que passamos a vivenciar , não se mostrem comovidos com a lágrima da mãe que não tem o que colocar na hora do almoço para os seus filhos, porque seu pai está desempregado, enquanto que eles, os poderosos, eles ainda almoçam, e se divertem com seus filhos, ao contrário do povo clevelandense, que padece de fome e de sede, pelos quatro cantos do município.

A multidão delirou e aplaudiu entusiasticamente. Quando as palmas cessaram, voltou a falar:

-Até quando? Até quando ficaremos com os nossos braços cruzados, esperando pela Justiça Divina? Pelo acaso? E a mentira? Até quando ficaremos esperando feito covardes, com medo de lutar, de buscar juntos a solução por dias melhores?

Pausa e silêncio.

Voltou a falar, a voz agora mansa , em tom baixo:

-Senhoras e Senhores, vamos nos dar as mãos neste momento e vamos cantar o Hino dessa terra, o hino de Clevelândia, e tenham certeza - melhor morrer lutando do que viver vegetando…

Cantaram o Hino de Clevelândia, emocionados. Sentia-se que a lavagem cerebral estava feita, o povo estava disposto a tudo naquele momento. Era preciso parar aquilo, de forma pacífica, sem confusão, mas como?

-Prefeito, você ouviu?

-Sim, estou preocupado, a situação está beirando a violência e, se continuar nesse pé, vai haver muita pancadaria, saques e mortes.

-Alguma idéia?

-Não… Hoje, sinceramente, seria o dia perfeito para ter ficado em casa, descansando, fingindo que o mundo ninguém fez.

-Prefeito, telefone para o senhor.

- Alô, quem é?

-Aqui é do Exército, estamos chegando.

-Ótimo, rápido, porque a situação está extremamente delicada.

-Olhe para o céu, os helicópteros devem ter chegado.

Olhou pela janela da prefeitura e ouviu o barulho de helicópteros, vindo de todas as direções. A multidão gritava, enfurecida:

-Podem vir, nós não estamos com medo, vamos lutar, estamos prontos até a morrer, se for preciso.

Nisso também começaram a chegar os policiais, que se posicionaram, em pontos estratégicos, para conter o avanço da multidão que, irada, queimava os carros da polícia.

Gases lacrimogêneos foram atirados em todas as direções para conter a multidão, bombas de efeito moral jogadas a esmo, tiros com balas de festim e tranqüilizantes atingiam muitos manifestantes, que recuavam, diante da superioridade das armas da polícia e diante do terror daquele momento. O caos se desenhava, os gritos, o barulho dos helicópteros, a fumaça, as bombas, os tiros, a chegada do exército, o mundo girava rapidamente. Pelas calçadas, muitas pessoas caíam, inconscientes. O pânico tomou conta, era cada um por si. Pessoas pisoteadas, durante a fuga alucinada da multidão. Muitas são detidas, outras covardemente esmagadas pela polícia e o exército.

Uma imensa neblina de fumaça cobria toda a Praça Getúlio Vargas. Podia-se ver os carros queimando, parecia que o inferno tinha se erguido em Clevelândia naquele momento. O sangue escorria na face e nos corpos das pessoas, os bombeiros tentavam, em vão, controlar as chamas, que começavam a incendiar alguns prédios e casas.

De longe, os ET`s observavam tudo com atenção. Estudavam o comportamento dos humanos diante do inusitado e como reagiam diante de calamidades, sinistros e provocações.

-Essa raça é muito emotiva.

-Sim, comandante.

-Basta umas palavras de desordem e todos perdem a consciência e deixam seu lado selvagem falar mais alto.

-Isso é ótimo, a guerra contra eles vai ser mais estratégica. Vamos deixar que eles se matem, depois, quando tudo estiver beirando o caos, nós os pegamos de surpresa. A essas alturas, serão muito fáceis e não oferecerão resistência.

-Você viu onde foram os líderes, os que incitavam a multidão?

-Fugiram antes mesmo dos helicópteros chegarem.

-Temos que tomar cuidado com esse tipo de gente. A covardia, a ânsia pelo poder e a falsidade beiram à loucura.

-Sim, comandante, nós conhecemos muito bem esse tipo de energia. Ela está presente em nosso sangue, desde os primórdios de nossa raça.

-A deles é ainda maior que a nossa. Segundo as nossas pesquisas, a concentração dessa energia é extremamente grande em alguns humanos, porém eles não desenvolveram a capacidade para administrar tanta maldade.

-No entanto, eles são bem capazes de destruir o planeta, movidos pelo ódio que sentem uns dos outros. Essa energia tem uma fraqueza que os torna inferiores em comparação com a nossa raça.

-Qual, comandante?

-Nós somos maus, mas somos unidos pelos nossos objetivos. Eles, pelo contrário, querem acumular somente para si próprios, é a ganância humana. Depois que fomos morar no subsolo de nosso planeta, aprendemos que, para a sobrevivência de uma raça, quer seja boa ou má, deve-se compartilhar objetivos comuns.

-Fraquezas terrestres, comandante, são inúmeras.

-E isso só nos dá certeza de que os dias deles estão contados.

-O que vamos fazer, comandante, neste momento?

-Vamos voltar para a nossa base. Por hora não há necessidade de fazer muita coisa, eles já fizeram por nós.

-Aliás, precisamos nos aproximar dos líderes que promoveram toda essa confusão. Embora perigosos, nos serão de extremo valor.

-Não acho necessário, comandante.

- É, talvez você tenha razão, vamos deixar pra lá.

O SEXTO SENTIDO DE ANA

“Pode ser que a nossa civilização seja o resultado de um longo esforço para obter da máquina certos poderes que o homem antigo possuía: comunicar à distância, elevar-se no espaço, libertar a energia da matéria, anular o peso etc. Pode também acontecer que no final das nossas descobertas nos apercebamos de que esses poderes são manejáveis com um equipamento tão reduzido que a palavra “máquina” terá outro sentido. Teremos ido, nesse caso, do espírito para a máquina, e da máquina para o espírito, e certas civilizações longínquas parecer-nos-ão muito menos afastadas” (Louis Pauwels & Jacques Bergier)

Enquanto o caos estava sendo controlado, Ana, do outro lado da cidade, assistia tudo pela TV, não acreditando no que presenciava.

-Meu Deus - comentou em voz baixa - se as coisas continuarem nesse rumo, a cidade não vai resistir por muito tempo.

Quando a câmera da TV filmava tudo, ela percebeu aquelas duas estranhas figuras e, do outro lado da TV, sentiu suas vibrações. Por um momento, pensou que fosse vomitar. Controlou sua ânsia, ajoelhou-se e pediu a Deus para que nada do que estava passando pela sua cabeça fosse verdade, mas, que se fosse, desse-lhe forças, porque o que emanava delas era o controle absoluto. Tudo o que estava ocorrendo nos últimos meses na cidade, convenceu-se, plenamente, de que eles estavam por trás de todos os fatos. Mas quem seriam?

A mãe de Ana, apavorada, observava a filha, de joelhos, na sala. O que teria acontecido desta vez?

Dona Zélia não gostava muito desse dom de Ana. Durante anos, procurou respostas para as visões e pressentimentos da filha. Inúmeras foram as noites de desespero e pesadelos de Ana. As primeiras manifestações começaram ainda cedo, com quatro anos de idade, quando ela despertou toda a família, alta madrugada, chorando e gritando, dizendo que o vovô iria fazer uma longa viagem, que a deixara na estação de ônibus, recusando-se a levá-la. Alegava que havia lugar naquele dia somente para ele, e que ela devia se comportar e ser uma boa menina, pois ele nunca mais voltaria a vê-la.

Naquele noite, Dona Zélia confortara Ana, dizendo que ela tivera um pesadelo, comera muito antes de dormir e essas coisas aconteciam. Acrescentou que Ana pedisse para seu anjinho da guarda preservar seu sono e lhe dar bons sonhos. Ana fizera isso e dormira no colo de Dona Zélia.

No dia seguinte o telefone tocara. Era a mãe de Dona Zélia, que morava no interior do Rio Grande do Sul, avisando que seu pai tinha falecido, o avô de Ana, e que era necessário se deslocar até lá para se despedir.

Um arrepio percorrera Dona Zélia, quando vira, a seu lado, sua filha, ainda de pijaminha, segurando o ursinho e dizendo:

-A vovó está muito triste com a partida do vovô, mas ele está muito feliz onde foi morar. Depois que eu dormi, um anjinho me mostrou o lugar.

Depois daquele dia, a vida das duas nunca mais fora a mesma. Dona Zélia buscara, em vão, encontrar soluções, nas mais diversas igrejas. Muitas delas, inclusive, atribuíram o dom de Ana como sendo obra do maligno.

As estranhas visões de Ana continuavam a assombrar a família e a própria menina, mas nada podiam fazer para mudar o rumo das mesmas.

A menina cresceu, começou a entender melhor o fenômeno que possuía, lia e pesquisava muito sobre o assunto. Descobriu que não era nem a primeira e nem a única a prever certos acontecimentos; soube que isso tudo fugia do controle das pessoas. Desesperou-se por não poder fazer nada para mudar a realidade e as catástrofes que aconteciam ao seu redor e no mundo, até que, um dia, teve um encontro com Deus, o qual lhe disse que essa era a coisa mais linda que acontecera em sua vida.

Nunca comentou nada além disso, mas quando tinha pressentimentos ou visões, quando sua intuição falava mais alto, rapidamente punha-se de joelhos e conversava com Ele, não importando o local em que se encontrava.

Ana terminou a oração e observou sua mãe, com o olhar triste, no canto da sala.

-Que foi, mamãe? Não precisa ficar preocupada.

-O que foi desta vez, filha?

-A senhora sabe tudo o que está acontecendo em Clevelândia. Por um breve momento, veio-me a sensação de ter visto os responsáveis, estavam na praça no momento do caos.

-Como você viu?

-Foi pela TV, e aconteceu tudo muito rápido, mas tive certeza, eram eles. Mamãe, não se preocupe, Deus vai cuidar de nós, mas precisamos acreditar.

-Eu sei, minha filha, Deus nunca nos abandona.

Ana pegou sua bicicleta e resolveu ir até o Local das Pedras para meditar e observar que energias emanavam daquele local.

O LOCAL DAS PEDRAS

O que há de admirável no fantástico é que não há mais fantástico: há apenas o real” (Andre Breton)

O Local das Pedras é um pouco retirado da cidade. Depois de passar pelo Bairro Soledade, segue-se reto pela BR até o segundo quebra-molas, próximo ao Colégio Alexandre Broto. Cem metros adiante, pega-se a rua de chão, à esquerda. Quando chega ao final da rua, adentra-se por um carreiro e, depois de passar pelo bosque, já se pode ver as pedras.

Ana chegou lá meia-hora depois de sair de casa; antes, porém, contatou a turma, pedindo que a encontrassem no local, às três horas da tarde, para uma reunião de urgência. Até lá, teria tempo para meditar e encontrar, nas forças superiores do Cosmos, fornecidas por Deus, o Criador de todos os mundos, povoados ou não, alguma pista para o que estava ocorrendo em Clevelândia e sobre aqueles dois seres que ela vira rapidamente pela televisão.

Resolveu descer por outro carreiro até chegar às pedras. Ao chegar, ficara em silêncio, até em pensamentos. Apenas sentia o ar que respirava, os diversos sons que o vento produzia, o canto dos pássaros…

Por que os pássaros não estavam cantando? Concentrou-se mais, não ouviu um ruído sequer. “Hoje não estão com vontade de cantar” - pensou. Sentiu o som das árvores e, em seguida, entrou em Alfa.

Nunca se acostumara com aquilo. Cada vez que entrava em Alfa, seu espírito sofria um desdobramento e fluía pela cabeça. Era meio dolorido no início, mas uma vez estando fora do corpo, Ana compreendia um pouco mais sobre a realidade que a cercava, ficava tudo mais claro.

Mesmo no lado de lá, nos primeiros minutos o Local das Pedras se apresentava da mesma forma… o céu, o ar, as árvores, as pedras… Tudo normal demais….

De repente, algo despertara a atenção de Ana, na outra dimensão. Saindo do nada, Valéria vinha em sua direção.

-Valéria, é você?

Valéria nada respondera.Continuara a vir em sua direção, seus longos cabelos negros e soltos, em profundo silêncio, fitando seus olhos. Os trajes de Valéria lembravam uma guerreira, Ana nunca vira nada igual. As roupas eram todas confeccionadas em metal: a calça, a blusa, algo que ela usava na cabeça (o brilho daquilo quase ofuscava sua visão) e, na cintura, uma espada.

Então Valéria puxara da espada e nela Ana vira claramente uma cruz, em forma de estaca, que se fundia com a espada. Nesse mesmo momento, Valéria desaparecera e, no seu lugar, a estranha e bizarra figura do alien humanóide. Ana começou a entender porque Valéria tinha tanto medo deste pesadelo. O terror que a estranha criatura transmitia era tanto que ela queria sair imediatamente do transe, porém não conseguia, seu espírito estava preso naquela dimensão agora. No momento em que o alien estava prestes a pegá-la, surgiu Valéria, com a espada e o alien fugiu. Em seguida, Valéria desapareceu.

Mais calma, Ana raciocinara sobre o que acabara de ver.

- Que raios era Valéria com aquela roupa? Preciso conversar com ela, urgente.

Ana voltou do estado alfa bem na hora, pois a turma acabara de chegar ao Local das Pedras para a reunião.

AS VISÕES DE ANA SÃO DETECTADAS PELOS EXTRATERRESTRES

“Mesmo que não admitindo, estamos todos interligados, conectados, com o universo a nós mesmos e os seus habitantes, como o telefone apenas temos que saber o número a discar… Disto nosso subconsciente se encarrega. Novas verdades ainda surgirão no horizonte desta geração.” (Nota do Autor)

Nesse meio tempo, o assessor do comandante estava desesperado. Há mais de meia hora, o chefe estava inconsciente, a respiração enfraquecida, o pulso fraco, sem motivo, aparentemente, para estar nessa situação. Temia que o comandante morresse.

-Hummm, tirem ela daqui….. Hummmm, é ela ……. Quem é você, maldita?………

-Comandante, acorda, acorda….

O comandante, perturbado, saltou da cadeira em direção ao seu assessor. Estava pronto a desferir um golpe, quando a consciência retornou e ele, apavorado, disse:

-O que aconteceu, o que estou fazendo aqui?

-Eu é que lhe pergunto, o senhor sentou na cadeira meia hora atrás e caiu num profundo sono.

-Tem duas ou mais guardiãs aqui nesta cidade, não descobriram nada sobre elas até agora?

-Não temos a mínima idéia, em Nelfos não conseguiram achá-las.

-Elas são muito fortes, temos que encontrá-las na forma humana, antes de elas descobrirem exatamente quem são. Elas podem atrapalhar nossos planos e pôr tudo a perder…

-Mas, comandante, você conhece a história! Nossos ancestrais acabaram com todas as guardiãs, há muito tempo.

-Acho que não, algumas podem ter fugido naquele dia e reencarnado neste planeta.

-Então significa que a coisa não vai ser tão fácil quanto parecia?

-Melhor assim… você não sabe o prazer que sentiram os nossos ancentrais ao matá-las. São valiosos troféus de guerra!

-Você lembra dos traços delas?

-Sim.

-Então passe-os para o nosso computador fazer o retrato falado.

O comandante fez a descrição. Em seguida, o computador tinha a imagem perfeita de Valéria. Ao acessar a Internet, através da nave, identificaram-na rapidamente: Valéria Coimbra dos Santos, nascida em Clevelândia, dados pessoais criptografados.

-Tente descriptografar.

-A linguagem da criptografia é um tanto confusa.

Ao tentar mais uma vez, o programa onde estavam os principais dados de Valéria liberaram inúmeros vírus, que o computador de bordo rapidamente identificou e eliminou, não conseguindo, no entanto, descriptografar aquela estranha linguagem de programação.

-E a outra guardiã?

-Não consta nada nos arquivos da NET.

-Comandante, eu tenho uma idéia.Vamos procurá-las, não vai ser difícil encontrá-las.

-Melhor ainda, vamos atraí-las até nós.

A REUNIÃO NO LOCAL DAS PEDRAS

“Hoje, nos cinco continentes, quaisquer que seja a nacionalidade, a religião, a influência da denominação política, qualquer que seja o grau de civilização, existem dezenas de milhares de pessoas, talvez milhões, que possuem uma compreensão comum que vai além das ideologias, que desafia dogmas científicos e que, num grau nunca atingido antes nas relações de um mundo multi-racial, estão em concordância com uma doutrina solitária: uma crença nas visitas feitas ao nosso planeta por desconhecidos vindos de um outro espaço” (Guy Tarade - Civilizações Extraterrestres)

-Até eu, que sou uma pessoa dotada de pouca sensibilidade, estou percebendo que algo está cheirando mal em Clevelândia - foi dizendo Gilberto, ao chegar ao Local das Pedras.

-Muito mal mesmo - constatou Vanessa. - Pelo que meu pai falou lá em casa, o prefeito acaba de decretar estado de calamidade pública, parece que tudo que existe plantado nesta cidade está indo a pique, e tudo começou com o porongo.

-É sem porongo para produzirem as cuias de chimarrão, as pessoas ficarão sem ter o que fazer, e o resultado nós começamos a ver hoje, quando houve toda aquela confusão na praça - lembrou Eduardo.

-Gente, tenho algo muito importante para falar com vocês - disse Valéria.

A turma voltou-se para ela e, em silêncio, ouviram.

-Minha mãe me disse que realmente houve uma invasão extraterrestre na cidade, um pouco antes de eu nascer. Eles tinham o domínio do município até que meu pai descobriu no porongo toxinas que eram fatais para os aliens, que começaram a morrer um por um. Talvez algum deles tenha escapado.

-Valéria, essa história é muito conhecida, mas ninguém acredita. Digamos que seja verdadeira, somada com todas essas coisas absurdas que vêm acontecendo em Clevelândia, culminando com o desaparecimento dos porongos, seus sonhos e a anomalia genética que nós vimos com os nossos próprios olhos lá nas margens da cascata do Rio São Francisco… Será que seria muita idiotice da minha parte desconfiar que os mesmos aliens estariam tentando uma nova invasão? - questionou Vanessa.

-Valéria, preciso falar o que aconteceu comigo minutos antes de vocês chegarem - disse Ana.

-O que aconteceu?

Ana contou, nos mínimos detalhes, sobre a estranha visão e descreveu, com precisão, o ET que assombrou sua meditação.

-Não sei o que significa tudo isso, mas a forma que você me descreve, é idêntico ao que eu vi nos meus pesadelos. Com certeza, deve haver uma conspiração alienígena acontecendo neste momento.- responde Valéria.

-Vocês não estão sendo radicais demais com isso tudo? - perguntou Gilberto. O que esses caras iriam querer conosco?

-Sei lá, mas sei de histórias de ET’s que se destruíram em seus planetas e agora estão em busca de outros, que ofereçam condições para sobreviverem e conservar suas raças - falou Eduardo.

-Pode ser… Você não teve mais notícias daquela organização contra os aliens, Valéria? Afinal, você enviou o material que eles pediram? - questiona Ana.

-Claro, eu não estava brincando com vocês e menos ainda com eles.

-E se eles estivessem brincando conosco?

-Voltando ao assunto de uma possível invasão, o que faremos se isso acontecer?

-Nada, Eduardo, com certeza ficaremos impotentes, diante de uma ameaça destas. Imagine, não existe tecnologia na Terra pra combater esses caras, quem dirá em Clevelândia! Vamos assistir tudo de camarote, nem sei se vale a pena, diante dos fatos, salvar esse povo que só pensa em si próprio. Isso se nós pudéssemos vencê-los numa possível invasão, o que mais parece paranóia. Acho que estamos ficando malucos com todas essas histórias e, bem no fundo, nossos pais têm razão, está na hora de começarmos a ser pessoas normais.

- Gilberto, acho que você está sendo um pouco duro consigo mesmo e conosco. Já houve algo parecido uns dezoito anos atrás.

- Mas nada que se possa provar; e mais, é ridículo acreditar que o porongo exterminou uma raça inteira de aliens. O porongo, pelo que disseram, seria uma planta maldita, símbolo de onde as coisas não vão pra frente. Inclusive, a cidade vive sobre uma maldição que ia terminar em porongal!

- Ora, isso são lendas. Se a história for verdadeira, o porongo, na verdade, foi a salvação dos clevelandenses - enfatizou Valéria.

Ana, que permanecia em silêncio, apenas ouvindo, então disse:

- Vamos parar, não vai adiantar de nada discutirmos, precisamos de fatos concretos, buscar a verdade, ver se o que está acontecendo nestes últimos dias são fatos originários de richas políticas ou, até mesmo, de americano tentando colocar as mãos nessa região. Porque embaixo, no nosso subsolo, existe muita água potável, e como a água potável está super controlada no país deles…

-Eu sei disso - adiantou-se Vanessa. Tudo é possível, mas e a anomalia genética? E os sonhos?

-É, estamos dentro de um círculo vicioso, o assunto sempre termina e começa nisso. Vamos encarar a seguinte questão: onde estariam os alienígenas escondidos, se estivessem nos observando?

Houve então um grande silêncio na turma. Em que lugar estariam os ET’s planejando a utópica invasão de Clevelândia? Onde seria o lugar mais apropriado, que ninguém desconfiaria?

Sem obter respostas, ficaram novamente de pesquisar. A ordem, de agora em diante, era acreditar que isso, por mais que parecesse pura intuição, estava para acontecer. Deveriam procurar o esconderijo dos ET’s. Se eles estivessem entre nós, não seria assim tão difícil encontrá-los, algum rastro eles deveriam deixar.

-Bem, pessoal, a gente é amigo há muito tempo, fomos as únicas pessoas a desenvolver uma teoria a respeito do que aconteceu nos últimos dias em Clevelândia, amigos com quem compartilhamos nossas vidas e nossos traumas. Mas, se alguém aqui do grupo estiver disposto a sair fora disso tudo e esquecer do que estamos falando, está livre para tomar outro rumo e fazer o que bem entender - explicou Valéria.

Ninguém falou nada e todos concordaram em não se separar. Afinal, se, separassem, não encontrariam em outras pessoas aquela mesma união e amizade. Solitários, entrariam em depressão, uma vez que eram discriminados por muitas pessoas, devido ao comportamento estranho que tinham.

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